quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Memória de navegação

Elysio de Carvalho

Nasceu em Penedo no dia 29 de janeiro de 1880, onde aprendeu as primeiras letras e teve acesso às primeiras leituras, o suficiente para achar o ambiente mesquinho, pequeno para suas ambições intelectuais. A cidade, no entanto, acolhe a intensidade com que participa da vida intelectual e assiste sua primeira experiência como fundador de periódicos. Ali faz teatro, funda bibliotecas, escreve para vários jornais do estado, assinando com pseudônimos: “El Caro” e “Carvalho Brown”; e, sobretudo, funda o jornal literário Don Juan.
Aos doze anos é mandado para o seminário de Olinda, onde estudou por mais três anos e assistiu ao que chamou de "a encapotada hipocrisia fradesca". Volta então para Maceió para concluir, já em 1895, o curso de Humanidades no Lyceu Alagoano, passando a dedicar-se ao magistério.
Finalmente, em primeiro de abril de 1897, Elysio de Carvalho desembarca no Rio de Janeiro, onde assume, em maio de 1898, o emprego de amanuense da Junta Comercial. Meses depois abandona o emprego para se dedicar ao jornalismo fundando, junto com Isaías Guedes de Mello, o jornal diário A Tarde. Por esta época, começa a traduzir a obra de Oscar Wilde, ainda muito pouco conhecida no Brasil.
Este espírito de descobrir novos escritores estrangeiros e trazê-los traduzidos para o Brasil passa a ser quase uma obsessão. Da lista constam ainda Nietzsche e Stirner, dois filósofos que nortearam a cabeça do inquieto alagoano, consolidando seu espírito libertário, que acabaria por chegar ao anarquismo, isso do ponto de vista político.
O início do século XX encontra o ainda jovem Elysio já mais ou menos instalado na vida. Depois do jornal A Tarde, funda, em 1897, com Gonzaga Duque, Vicente Reis, Figueiredo Pimentel e outros, a revista Brasil Moderno. Em dezembro do ano seguinte, casa-se com Elvira da Silva Carvalho, com quem teve três filhos, Theodorico, Mário e Cléo. Nesse período, do ponto de vista da estética artística, busca conhecer tudo que de novo está acontecendo lá fora, tornando-se dos primeiros a citar Freud no Brasil. Apresenta ainda aos modernistas de 22 as curiosidades do dadaísmo, do futurismo e de outros tantos “ismos” então na moda, sendo decisiva sua participação na semana de 22, dando apoio tanto material quanto intelectual.
A inquietação intelectual, no entanto, o leva a um outro empreendimento de fôlego. No dia 2 de fevereiro de 1904, funda e passa a dirigir a Universidade Popular, cuja proposta era educar o proletariado brasileiro dentro dos preceitos socialistas. A idéia, avançada até para os dias de hoje, causa furor na cidade. Segundo alguns pesquisadores atuais, o esforço resultou na formalização da base de toda a teoria socialista brasileira.
Estava na plenitude de suas atividades empresariais e intelectuais, quando a tuberculose lhe chegou no começo de 1924, agravada depois de uma viagem para São Paulo. Os médicos aconselharam que, para a cura plena, ele teria que ir para a Europa. No dia 9 de fevereiro de 25, embarca para o Velho Mundo.
Depois de breves passagens por Portugal e pelo sul da França, chega a Davos-Platz, na Suíça, onde se interna no Sanatório de Schatzalp. Elysio morreu no dia 2 de novembro de 1925, lá mesmo no sanatório suíço, com 46 anos incompletos, deixando uma biblioteca com mais de cinco mil volumes.
Entre suas obras podemos citar: “As Modernas Correntes Estéticas na Literatura Brasileira” (1907); “Esplendor e Decadência da Sociedade Brasileira” (1911); “Gíria dos Gatunos Cariocas” (1912); “Brasil, Potência Mundial” (1919); “O Fator Geográfico na Política Brasileira” (1921); e “A Realidade Brasileira” (1922).

(in “Um rebelde nato”, texto publicado no jornal Gazeta de Alagoas – 2006)

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