domingo, fevereiro 18, 2007


SEXTO SENTIDO

sexta rua
de aventuras
encanto
dos meus amores

sei que choveu
noite e dia
o pranto
das minhas dores

e fez murchar
nos jardins
o desencanto
das flores

sexta rua
de agonias
espanto
dos meus dias.

ROSEANE RODRIGUES
(in Bico de Luz)

quarta-feira, fevereiro 14, 2007


Personas

Sinto o deslizar das águas
nesta manhã de prata,
e o fogo das colinas
que queima a relva verde
com as suas formas de vida,
às onze.

Pago o meu preço por ouvir tanto
e a minha voz
o triste estigma da palavra.

Sou personagem de uma comédia muda,
em um teatro fechado:
luzes apagadas...

Maurício Gomes Filho*
*Poeta penedense; poema incluído no livro Minhas musas difusas e outros poemas.

Memória de navegação

Elysio de Carvalho

Nasceu em Penedo no dia 29 de janeiro de 1880, onde aprendeu as primeiras letras e teve acesso às primeiras leituras, o suficiente para achar o ambiente mesquinho, pequeno para suas ambições intelectuais. A cidade, no entanto, acolhe a intensidade com que participa da vida intelectual e assiste sua primeira experiência como fundador de periódicos. Ali faz teatro, funda bibliotecas, escreve para vários jornais do estado, assinando com pseudônimos: “El Caro” e “Carvalho Brown”; e, sobretudo, funda o jornal literário Don Juan.
Aos doze anos é mandado para o seminário de Olinda, onde estudou por mais três anos e assistiu ao que chamou de "a encapotada hipocrisia fradesca". Volta então para Maceió para concluir, já em 1895, o curso de Humanidades no Lyceu Alagoano, passando a dedicar-se ao magistério.
Finalmente, em primeiro de abril de 1897, Elysio de Carvalho desembarca no Rio de Janeiro, onde assume, em maio de 1898, o emprego de amanuense da Junta Comercial. Meses depois abandona o emprego para se dedicar ao jornalismo fundando, junto com Isaías Guedes de Mello, o jornal diário A Tarde. Por esta época, começa a traduzir a obra de Oscar Wilde, ainda muito pouco conhecida no Brasil.
Este espírito de descobrir novos escritores estrangeiros e trazê-los traduzidos para o Brasil passa a ser quase uma obsessão. Da lista constam ainda Nietzsche e Stirner, dois filósofos que nortearam a cabeça do inquieto alagoano, consolidando seu espírito libertário, que acabaria por chegar ao anarquismo, isso do ponto de vista político.
O início do século XX encontra o ainda jovem Elysio já mais ou menos instalado na vida. Depois do jornal A Tarde, funda, em 1897, com Gonzaga Duque, Vicente Reis, Figueiredo Pimentel e outros, a revista Brasil Moderno. Em dezembro do ano seguinte, casa-se com Elvira da Silva Carvalho, com quem teve três filhos, Theodorico, Mário e Cléo. Nesse período, do ponto de vista da estética artística, busca conhecer tudo que de novo está acontecendo lá fora, tornando-se dos primeiros a citar Freud no Brasil. Apresenta ainda aos modernistas de 22 as curiosidades do dadaísmo, do futurismo e de outros tantos “ismos” então na moda, sendo decisiva sua participação na semana de 22, dando apoio tanto material quanto intelectual.
A inquietação intelectual, no entanto, o leva a um outro empreendimento de fôlego. No dia 2 de fevereiro de 1904, funda e passa a dirigir a Universidade Popular, cuja proposta era educar o proletariado brasileiro dentro dos preceitos socialistas. A idéia, avançada até para os dias de hoje, causa furor na cidade. Segundo alguns pesquisadores atuais, o esforço resultou na formalização da base de toda a teoria socialista brasileira.
Estava na plenitude de suas atividades empresariais e intelectuais, quando a tuberculose lhe chegou no começo de 1924, agravada depois de uma viagem para São Paulo. Os médicos aconselharam que, para a cura plena, ele teria que ir para a Europa. No dia 9 de fevereiro de 25, embarca para o Velho Mundo.
Depois de breves passagens por Portugal e pelo sul da França, chega a Davos-Platz, na Suíça, onde se interna no Sanatório de Schatzalp. Elysio morreu no dia 2 de novembro de 1925, lá mesmo no sanatório suíço, com 46 anos incompletos, deixando uma biblioteca com mais de cinco mil volumes.
Entre suas obras podemos citar: “As Modernas Correntes Estéticas na Literatura Brasileira” (1907); “Esplendor e Decadência da Sociedade Brasileira” (1911); “Gíria dos Gatunos Cariocas” (1912); “Brasil, Potência Mundial” (1919); “O Fator Geográfico na Política Brasileira” (1921); e “A Realidade Brasileira” (1922).

(in “Um rebelde nato”, texto publicado no jornal Gazeta de Alagoas – 2006)

sexta-feira, fevereiro 09, 2007


HOSPITAL - Berço da vida e da morte

Neste lugar sacro-santo
onde se encontram enfermos aflitos,
tanto a vida quanto a morte
se chocam num constante conflito.
Em seus berços se nasce
e em seus leitos se morre a todo instante,
com a mesma graça angelical
com que se ri e se chora.
Em seus corredores sombrios e frios
transitam os transeuntes carentes,
conforme a ilusão da cura ou a desilusão da morte
ante as diversas enfermidades da vida.
Seus habitantes permanentes
são mensageiros da esperança... talvez perdida,
são médicos e enfermeiros competentes,
são atendentes sorridentes e sisudos pacientes,
entram e saem calmamentes dos seus gabinetes
nesta cidade de mortos-vivos.
Em seus berços maternais e aconchegantes
despertam para a vida rebentos inocentes.
Em seus leitos fúnebres e aterradores
morrem jovens adolescentes e velhos dementes,
que em seus lábios gélidos e ressequidos
a morte depositou o último beijo.
Eis que o tempo passante e pedante
não desmorona os graníticos alicerces
desta imensa arquitetura,
por ser tão antiga quanto a morte...
moléstia que a medicina não cura.

DFAnjos 09Fev07

quinta-feira, fevereiro 08, 2007


Vista parcial da cidade de Piranhas, vendo-se o rio São Francisco e aspectos do seu casario.
MULHER

Cabelos soltos ao vento
nua e sem pudor,
livre e ao relento.
Teu corpo inocente e carente
vislumbre de amor.
Caprichosa natureza
que te adornou com a beleza,
com a alegria e sem tristeza.
Seios que seduzem,
nudez que reluz,
lábios que provocam
o encanto de um beijo.
Tuas coxas enlouquece...
e o homen perde a razão.
O teu ventre resplandece,
e o fruto que oferece
é o pecado e o perdão.
Esta é a eterna miragem da MULHER
no deserto da fantasia.
É a beleza que envelhece com a noite
e rejuvesnece com o dia.

DFAnjos 08fev07

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Uma página

Antônio de Freitas Machado
Nasceu em Pão de Açúcar a 3 de maio de 1895. Era filho do Coronel Miguel de Freitas Machado e de D. Cândida Delfina de Andrade Freitas.
Foi um dos maiores educadores da nossa terra, tendo sido fundador e Diretor do Ginásio D. Antônio Brandão, do Colégio Normal Monsenhor Freitas e do Curso de Contabilidade, que formaram várias gerações de moços pãodeaçucarenses.
Foi vereador em várias legislaturas, tendo sido Presidente da Câmara e assumido o cargo de Prefeito nos períodos de 27 de novembro de 1952 a 23 de fevereiro de 1953 e 17 de junho de 1953 a 7 de setembro de 1954. Como escritor utilizava o pseudônimo VINICIUS LIGIANUS.
Faleceu em 1º de agosto de 1970.
Abaixo, transcrevemos fragmento do texto "Mãe serteneja", de sua autoria.

MÃE SERTANEJA
(Quadro das grandes secas nordestinas)

Dorme, dorme meu filhinho
Que tua mãe vai à fonte...
Numa rede velha e suja,
Choraminga o garotinho.
Em casa, como nos campos,
Nem pão, nem água...
A seca devorou tudo! ...
E tudo morre de fome,
E tudo morre de sede.
E, como secou a fonte,
Secou o seio materno.
A seca devorou tudo! ...
A criancinha tem febre,
Tem os lábios ressequidos
E apenas diz, suplicante:
Uma aguinha, tenho sede!
Mãezinha, tenho sede!
E a mater dolorosa
Não tem água, nem tem leite.

A seca devorou tudo! ...
Para adormecer o filho,
Canta, chorando de dor.
Dorme, dorme anjinho,
Que tua mãe vai à fonte...
Mas a criança não dorme:
Uma aguinha, tenho sede!
Mãezinha, tenho sede!
Mas, em casa não há água
Nem na casa, nem na fonte...
E a pobre mãe, desolada,
Na tua imensa aflição,
Com a faca de cortar fumo,
Rasga o pulso!
O sangue jorra.
Dá ao filho pra beber!
.......................................................
E agora a criança dorme...
Dorme a criança, tranqüila,
O sono de algumas horas! ...
Dorme a mãezinha, tranqüila,
O sono da eternidade.
(in PÃO DE AÇÚCAR - CEM ANOS DE POESIA, Etevaldo Amorim - 1999 )

domingo, fevereiro 04, 2007

Imbuaça em Penedo

Em comemoração aos 30 anos de sua existência, o grupo teatral sergipano Imbuaça estará se apresentando em Penedo no próximo dia 15 de abril, com o espetáculo "Os Desvalidos", baseado no livro homônimo do escritor sergipano Francisco Dantas. Parabéns ao Imbuaça pela sua resistência durante trinta longos anos (desde 28 de agosto de 1977). O Teatro agradece. Os penedenses aguardam ansiosos o espetáculo. Parabéns!!!

sexta-feira, fevereiro 02, 2007


Foto de Penedo durante cheia do rio São Francisco. Na imagem, aspecto da Av. Beira Rio inundada pelas águas. (Década de 1930).
Minha estrela

Nasci pobrezinho, qual ave do bosque;
Eu tenho uma estrela que Deus me guiou,
— Um cetro supremo e sublime da Artista ―
E nem por impérios tal estrela eu dou.

Eu trago na fronte tão loiro diadema,
Mais loiro e mais lindo que a luz das manhãs!
O sol me desperta em meu leito de espinhos,
As flores dos campos são minhas irmãs.

Debalde a riqueza me cobre de insultos,
A inveja tropeça na linha em que vou,
Eu tenho uma estrela radiante de Artista,
É um timbre infinito — foi Deus que timbrou.

Sou órfão de amores, sou pobre de afetos,
— Não tenho carinhos jamais de ninguém —
Eu tenho uma estrela suprema de Artista
E tenho uma glória que muitos não têm.

Sabino Romariz*
*Poeta maior penedense (1873-1913).

quinta-feira, fevereiro 01, 2007


DESESPERO

No mar das ilusões
borbulham ondas de vinho,
Na taça da sedução
me embriago com a vida... sozinho.
Entorno na boca sedenta
o fel desta bebida ardente,
Vivo o delírio embriagante
de um sonho... distante.
Sinto o pulsar compassado do coração
nas entranhas do peito,
Sinto-me ébrio e perdido
no seio desta fantasia... sem defeito.
Foram tantos casos e descasos
todos vividos e revividos em agonia,
hoje são lembranças perdidas... vazias.
E verdadeiro e real este enredo,
que se desenrola no crânio debruçado
sobre uma mesa gordurosa de uma taverna sombria.
Hoje sinto o gozo desta existência
em um orgasmo de um falo,
que falece em penitência.
Vivo na companhia sinistra da morte
em cada esquina me espreitando,
bafejando seu hálito pútrido
sussurrando em meu cangote.
Quem sabe nos próximos segundos
enquanto respiro... por sorte
isto não aconteça.

DFAnjos 01fev2007